quinta-feira, 21 de abril de 2016

LITERATURA NORDESTINA CANGAÇO EM PÃO DE AÇÚCAR- AL



                                                                    LITERATURA NORDESTINA
                                                    CANGAÇO EM PÃO DE AÇÚCAR- AL
                                                       João Firmino Silva (1911-2001)
                                                  (O maior conhecedor de cangaceiros)
                                                          O TOCADOR DE LAMPIÃO
                              Por: Marcelo Maciel – Pesquisador
       Quem em Pão de açúcar da velha ou da jovem guarda, não conheceu o barbeiro João Firmino, aquele senhor moreno, magro e de estatura mediana, contador de histórias a maioria delas do cangaço. Sergipano nascido na fazenda Belém, na época pertencente ao senhor Antônio Britto, grande apoiador de Lampião em sua fazenda e região do São Francisco sergipano, interior do município de Porto da Folha. João Firmino, quando jovem levou a vida por alguns anos como sanfoneiro do bando de Lampião; quando o cangaço acabou, casou-se com uma moça ribeirinha-Pão de açucarense do povoado Santiago, atendida por Dona Dalva (1917-2000). Sua barbearia, na sala de sua pequena e humilde casa em Pão de Açúcar, era ponto de encontro entre amigos e velhos conhecidos – muitos deles simpatizantes e contemporâneos do cangaço era uma frequência todas as Segundas-Feiras e um tanto durante a semana.
        Eu ainda um jovem com pouco mais de vinte anos, mas já um cultivador de histórias de cangaceiros, sempre que estava em Pão de Açúcar fazia-me presente na casa do senhor João Firmino, de início como um desconhecido, mas ávido de curiosidade, até que fiquei conhecido do velho e de alguns de seus amigos- Até que  certo dia perguntei – Seu João, eu posso copiar algumas coisas que o senhor fala do cangaço? – Ele me respondeu sem hesita: venha amanhã, que hoje estou ocupado. Na Terça-Feira com um caderno em mãos e uma caneta cheguei pela manhã na casa do velho João Firmino, era Dezembro de 1997. Começamos a conversar- Durante o nosso diálogo, o velho “tocador de Lampião” começou a me revelar um grande acervo que saía de dentro de sua lúcida memória – Falou-me, em mais de 100 apelidos de cangaceiros que conheceu de perto pessoalmente enquanto conviveu no seio do cangaço como sanfoneiro, sabia em verso e prosa como poucos até de onde procedia a maior parte dos cangaceiros, apesar de muitos negarem a localidade de origem.
      João Firmino conheceu cangaceiros de Alagoas:
     - Cangaceiros ditos de Pão de Açúcar, AL.
     - VELOCIDADE
     - RETIRANA
     - BARREIRA (Dito João cabra bom)
     - CIRILO DE ENGRACIA
     - ALAGOANO
     -  VINTE E CINCO
     - TIRANIA  
     - PAU FERRO
Cangaceiros ditos de Mata Grande, AL.
Entre eles:
-PEDRA ROXA e SANTA CRUZ.
Cangaceiro dito de Traipu, AL.
-LEMBRANÇA
Cangaceiro dito de Piranhas, AL.
- VILA NOVA (Localidade Poço Verde)
Cangaceiros ditos de Água Branca, AL.
Entre eles:
-CORISCO,BENVINDO e ANTÔNIO ROSA.
Cangaceiros ditos de Carneiro, AL.
- PEITICA e MANGUEIRA
Outros cangaceiros que apenas diziam-se alagoanos:
- PANCADA e sua mulher MARIA PANCADA
- CRIANÇA e sua mulher DULCE, PAI VEIO, PAVÃO, POCORAN, CAJARANA, SABÃO, CORRENTEZA, GATO (Marido de Inacinha), PORTUGUÊS, ZÉ CEGO, CANJICA, CORDÃO DE OURO, OLHO DE GATO, LARANJEIRA, SALAMANTA e COBRA VERDE.
 Cangaceiros de Sergipe conhecidos do sanfoneiro João Firmino.
Cangaceiros ditos de Carira, SE.
-BALÃO, MOITA BRABA e BEIJA-FLOR.
Cangaceiros ditos de Canhoba, SE.
-CANDIEIRO, GORGULHO, PENEDO que era primo de ADÍLIA, mulher do cangaceiro CANÁRIO.
Cangaceiros ditos de Propriá, SE.
-ELETRO E LAVANDEIRA.
                                                    POÇO REDONDO, SERGIPE, CANGAÇO.
Lampião chegou a ser senhor absoluto rei do cangaço em todo o nordeste e o então distrito de Poço Redondo em Sergipe na época se transforma na CAPITAL DO CANGAÇO! Com mais de 30 cangaceiros no bando do rei do cangaço. A partir de 1934, Poço Redondo foi sua joia mais preciosa no recrutamento de cangaceiros entre tantos os mais conhecidos do sanfoneiro João Firmino.
-ZABELÊ e o sanfoneiro João Firmino eram primos.
-NOVO TEMPO, MARINHEIRO e MERGULHÃO ( Irmãos de SILA), DEMODADO, COIDADO,DIFERENTE,DELICADO,SABIÁ,CAIXA DE FOSFÓRO,CANARIO,CAJAZEIRA que foi o fazendeiro Zé Julião Nascimento, que mais tarde veio a adentrar na política de Poço Redondo e por alguns motivos alheio veio ser assassinado em 19 de Fevereiro de 1961. Zé de Julião foi candidato a Prefeito pela primeira vez em 1954. O resultado da eleição 134 a 134 votos deu empatado, com o outro concorrente Artur Moreira de Sá que assumiu por ser mais velho, perdendo a eleição, portanto, Zé de Julião, o antigo cangaceiro CAJAZEIRA. Quatro anos depois (1958) Zé de Julião é candidato novamente ao cargo de Prefeito de Poço Redondo tem como concorrente o Tenente da Polícia Sergipana (Eliezer Joaquim de Santana). Zé de Julião tem chances totais de vitória, mas uma injustiça lhe acontece. A UDN e o seu poderoso chefe (Leandro Maciel), não permite que o antigo cangaceiro concorra à eleição, não permitindo que os seus eleitores recebam os títulos para votar. Impedido da disputa, Zé de Julião no dia da eleição, invade Poço Redondo e a localidade Bonsucesso, roubando as urnas da cidade e do povoado. Zé de Julião é cassado pelas autoridades. Foge e se esconde na Serra Negra, atual Pedro Alexandre na Bahia, amparado pela força e o poder do Tenente João Maria. Naquela ocasião já estavam escondidos em Serra Negra os homens mais valentes do PSD sergipano: PITITÓ, ZECA DA BARRA, TONHO PEQUENO, os CEÁRA e JOSAFÁ. Todos escorraçados do estado de Sergipe pela polícia e os jagunços da UDN do senhor Leandro Maciel. O eixo da ação daqueles perigosos proscritos da política Sergipana passa a ser Serra Negra na Bahia e Pão de Açúcar em Alagoas. Em Pão de Açúcar, sobressaia-se a figura do último coronel do sertão – Elísio Maia (1914-2001), mantendo às suas expensas um numeroso bando de jagunços e pistoleiros arrebanhados em Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Elísio Maia manteve-se por mais de 40 anos na política de Alagoas com uma vasta área de comando a ferro e a fogo em diversos munícipios do sertão alagoano.
        Agosto de 1928 quando Lampião foi escorraçado de Pernambuco, cruzou o Rio São Francisco e entrou no sertão Baiano, levando consigo apenas cinco cangaceiros, o cunhado Virgínio (MODERNO), o irmão caçula Ezequiel (PONTO FINO) Luiz Pedro, MERGULHÃO e MARIANO. O sanfoneiro João Firmino, ainda tocou pessoalmente para os cangaceiros – CORISCO, MERGULHÃO, MOURÃO, DELICADO, XEXÉU, CHÃ PRETA e LABAREDA.
Cangaceiros Baianos conhecidos do sanfoneiro João Firmino:
-CRUZEIRO, AMOROSO, MARIANO, MEIA NOITE, DEVOÇÃO, JURITI, ANGÊLO ROQUE DA COSTA – O LABAREDA, PASSÁRINHO, SABONETE, ZÉ SERENO e o carrasco de Chorrochó – O famoso Zé Baião, o ferrador – O cangaceiro da Palmatória, MANÉ MORENO, ZEPELIM, MORMAÇO E MOURÃO.
      No interior de Pão de Açúcar grande façanha se deu quando um civil conhecido por Antônio de Amélia, ele sozinho enfrentou e matou (04 cangaceiros) sendo: - ZÉ FORTALEZA (chefe de bando), MEDALHA, SUSPEITA e LIMOEIRO. O fato ocorreu em 19 de Setembro de 1935, na fazenda Aroeiras. O fim do cangaço foi traçado em Alagoas, com vital participação das cidades de Piranhas e Pão de Açúcar. Ainda no interior de Pão de Açúcar no final do cangaço mais uma barbaridade acontecia – O filho de Luís Vicente foi castrado em questão de minutos. Fuxico foi o motivo principal da confusão.
      O soldado Adrião foi morto pelo cangaceiro BALÃO. Adrião era filho de Pão de Açúcar. As volantes de Pão de Açúcar estavam sob os comandos dos tenentes JUCÁ e PORFIRÍO e dos Sargentos Francisco Ferreira e Zé Calu. O cerco final do cangaço foi cada vez mais ficando restrito entre os munícipios de Piranhas e Pão de Açúcar em Alagoas e o então distrito de Poço Redondo em Sergipe. Nesse triângulo de território lascado pelo Rio São Francisco – Lampião- rei do cangaço ganhou confiança e se sentia cada vez mais um rei, ladeado de súditos dominados pelo medo da morte a ferro e a fogo.
   Cangaceiros Pernambucanos conhecidos do sanfoneiro João Firmino, entre eles.
- JUREMA, DESBOTADO, DESCONHECIDO, COBRA PRETA (criado de Lampião), PONTO FINO,(Irmão de Lampião – dito Ezequiel), MODERNO (Cunhado de Lampião), ESTRELA DALVA, SABINO,ASA BRANCA, QUINTA FEIRA,BEM-TE-VI,ZÉ FORTALEZA...etc.
                                                               MULHERES CANGACEIRAS
Além da baiana Maria Gomes de Oliveira – Maria Déia-MARIA BONITA (1911-1938) O sanfoneiro João Firmino conheceu:
                                                  

ALAGOANAS DO CANGAÇO
-INACINHA, companheira do cangaceiro GATO. Houve dois cangaceiros com o apelido de GATO, um deles era baiano e o outro era alagoano Inacinha dizia-se alagoana
-MARIA PANCADA, Companheira do cangaceiro PANCADA, diziam-se alagoanos de um lugar denominado Capivara interior de Batalha-AL, noutras versões eram baianos.
-NENEN, companheira do cangaceiro Luís Pedro, NENEN dizia-se alagoana de lugar ignorado. Na opinião do sanfoneiro João Firmino e também de muita gente, NENEN era a mulher mais bonita do bando, por ser tão rosada, ruborescia sangue no rosto, outros a chamavam com todo o respeito de “Rosa do Jardim do Paraíso”.
-DULCE foi a segunda companheira do cangaceiro CRIANÇA, ambos eram alagoanos.
                                                            SERGIPANAS DO CANGAÇO
                                                             (Maioria – Poço Redondo)
- ENEDINA, Sergipana de Poço Redondo foi companheira do cangaceiro CAJAZEIRA, ambos eram Sergipanos de Poço Redondo.
-SILA, Sergipana de Poço Redondo, foi a segunda companheira do cangaceiro baiano ZÉ SERENO. A primeira companheira do cangaceiro ZÉ SERENO chamava-se ILDA, era baiana e morreu de parto.
-ROSINHA, Sergipana de Poço Redondo, foi companheira do Cangaceiro baiano MARIANO (Chefe de Bando). Rosinha ficou viúva e despertou o interesse de abandonar o cangaço, foi morta a mando de Lampião.
-ADÍLIA, foi companheira do cangaceiro CANÁRIO, ambos eram Sergipanos de Poço Redondo.
-ADELAIDE, Sergipana de Poço Redondo, companheira do cangaceiro – CRIANÇA que era alagoano, Adelaide morreu de parto.
-ÁUREA, Sergipana de Poço Redondo, foi companheira do cangaceiro baiano MANÉ MORENO.
-MARIA, Sergipana de Canindé do São Francisco, foi companheira do cangaceiro baiano JURITI (chefe de bando).
                                                   CANGACEIRAS BAIANAS
-LIDIA, foi companheira do cangaceiro ZÉ BAIANO, mais tarde LIDIA veio a ser assassinado pelo próprio companheiro, vingando-se de uma traição.
-DADÁ, era baiana de Santa Brígida, foi companheira do cangaceiro alagoano - CORISCO – Chefe de bando.
                                         OUTRA DUAS MULHERES CANGACEIRAS
 -ZEFÁ, foi companheira do cangaceiro CANJICA.
-SEBASTIANA, foi a segunda mulher do cangaceiro sergipano Moita Braba, sua primeira companheira chamava-se LILY e foi morta apunhaladas por Lampião. LILY traiu o companheiro MOITA BRABA com o cangaceiro POCORAN – O protegido de Lampião.
       No estado de Sergipe segundo informações do “tocador de Lampião” – João Firmino, foram considerados como os maiores coiteiros de Lampião – Os irmãos – os dois fazendeiros coronéis de barranco Antônio Britto em seu latifúndio, fazenda Belém no município de Porto da Folha. E o seu irmão Hercílio Britto em sua imensa fazenda Cuiabá em Canindé do São Francisco, garantia apoio na região do alto sertão Sanfranciscano sergipano. O apoio ao cangaço dos irmãos Britto resplandecia com jurisdição sobre grande parte do sertão de Sergipe e todo baixo São Francisco até Própria, SE. Na fazenda Belém de Antônio Britto chegou a se reunir por vários dias entre 75 e 80 cangaceiros a comer, beber e dançar dias e noites. Abatia-se gado e outros animais, tudo as expensas do Coronel Antônio Britto e nada era diferente na fazenda Cuiabá do coronel Hercílio Britto, ambos os filhos do lendário Coronel de barranco cutelo e baraço, Francisco Porfirio Britto.
      O sanfoneiro João Firmino durante muito tempo manteve em Pão de Açúcar um bloco de carnaval denominado os CANGACEIROS.
(Lampião para mim era bom demais)
                                               João Firmino (1911-2001)

     Outros sanfoneiros bastante requisitados por Lampião entre os sertões de Alagoas e Sergipe eram: Manoel Guilhermino, interior de Pão de Açúcar. Agenor da Barra, era Pão de açúcarense, mas na época do cangaço residia em Barra do Ipanema – Belo Monte-Alagoas. Elis bão era Sergipano ao lado de João Firmino tocaram por mais de 10 anos na fazenda Belém onde não faltavam cangaceiros todos os dias. Após 17 dias passados da morte de Lampião – 14 de Agosto de 1938, o sanfoneiro João Firmino ainda tocou na fazenda Belém para os cangaceiros:
-VILA NOVA, PAVÃO, CRIANÇA, POCORAN, NOVO TEMPO e DESCONHECIDO!
      Em Pão de Açúcar para o conserto de algumas armas e o fabrico de outras como punhais, Lampião sempre requisitava os serviços do famoso ferreiro Mestre Pedro.
       O fazendeiro e Coiteiro dono da fazenda Belém Antônio Britto ficou muito triste, comovido quando ouviu pelo rádio a noticia da morte de Lampião de quem era grande amigo praticamente teve um desmaio.

INFORMANTE:
- O PRÓPRIO JOÃO FIRMINO – DEZEMBRO DE 1997
- RAMINHO (Neto de João Firmino) – FEVEREIRO DE 2016