LITERATURA NORDESTINA
CANGAÇO EM PÃO DE AÇÚCAR- AL
João Firmino Silva (1911-2001)
(O maior conhecedor de cangaceiros)
O TOCADOR DE LAMPIÃO
Por: Marcelo
Maciel – Pesquisador
Quem em Pão de
açúcar da velha ou da jovem guarda, não conheceu o barbeiro João Firmino,
aquele senhor moreno, magro e de estatura mediana, contador de histórias a
maioria delas do cangaço. Sergipano nascido na fazenda Belém, na época
pertencente ao senhor Antônio Britto, grande apoiador de Lampião em sua fazenda
e região do São Francisco sergipano, interior do município de Porto da Folha.
João Firmino, quando jovem levou a vida por alguns anos como sanfoneiro do
bando de Lampião; quando o cangaço acabou, casou-se com uma moça ribeirinha-Pão
de açucarense do povoado Santiago, atendida por Dona Dalva (1917-2000). Sua
barbearia, na sala de sua pequena e humilde casa em Pão de Açúcar, era ponto de
encontro entre amigos e velhos conhecidos – muitos deles simpatizantes e
contemporâneos do cangaço era uma frequência todas as Segundas-Feiras e um
tanto durante a semana.
Eu ainda um
jovem com pouco mais de vinte anos, mas já um cultivador de histórias de
cangaceiros, sempre que estava em Pão de Açúcar fazia-me presente na casa do
senhor João Firmino, de início como um desconhecido, mas ávido de curiosidade,
até que fiquei conhecido do velho e de alguns de seus amigos- Até que certo dia perguntei – Seu João, eu posso
copiar algumas coisas que o senhor fala do cangaço? – Ele me respondeu sem
hesita: venha amanhã, que hoje estou ocupado. Na Terça-Feira com um caderno em
mãos e uma caneta cheguei pela manhã na casa do velho João Firmino, era
Dezembro de 1997. Começamos a conversar- Durante o nosso diálogo, o velho
“tocador de Lampião” começou a me revelar um grande acervo que saía de dentro
de sua lúcida memória – Falou-me, em mais de 100 apelidos de cangaceiros que
conheceu de perto pessoalmente enquanto conviveu no seio do cangaço como
sanfoneiro, sabia em verso e prosa como poucos até de onde procedia a maior
parte dos cangaceiros, apesar de muitos negarem a localidade de origem.
João Firmino conheceu
cangaceiros de Alagoas:
- Cangaceiros ditos de Pão de Açúcar, AL.
- VELOCIDADE
- RETIRANA
- BARREIRA (Dito João cabra bom)
- CIRILO DE ENGRACIA
- ALAGOANO
-
VINTE E CINCO
- TIRANIA
- PAU FERRO
Cangaceiros
ditos de Mata Grande, AL.
Entre eles:
-PEDRA ROXA
e SANTA CRUZ.
Cangaceiro
dito de Traipu, AL.
-LEMBRANÇA
Cangaceiro
dito de Piranhas, AL.
- VILA NOVA
(Localidade Poço Verde)
Cangaceiros
ditos de Água Branca, AL.
Entre eles:
-CORISCO,BENVINDO
e ANTÔNIO ROSA.
Cangaceiros
ditos de Carneiro, AL.
- PEITICA e
MANGUEIRA
Outros
cangaceiros que apenas diziam-se alagoanos:
- PANCADA e sua
mulher MARIA PANCADA
- CRIANÇA e sua mulher DULCE, PAI VEIO, PAVÃO, POCORAN,
CAJARANA, SABÃO, CORRENTEZA, GATO (Marido de Inacinha), PORTUGUÊS, ZÉ CEGO,
CANJICA, CORDÃO DE OURO, OLHO DE GATO, LARANJEIRA, SALAMANTA e COBRA VERDE.
Cangaceiros de Sergipe conhecidos do
sanfoneiro João Firmino.
Cangaceiros
ditos de Carira, SE.
-BALÃO, MOITA
BRABA e BEIJA-FLOR.
Cangaceiros
ditos de Canhoba, SE.
-CANDIEIRO,
GORGULHO, PENEDO que era primo de ADÍLIA, mulher do cangaceiro CANÁRIO.
Cangaceiros
ditos de Propriá, SE.
-ELETRO E
LAVANDEIRA.
POÇO REDONDO, SERGIPE, CANGAÇO.
Lampião chegou a ser senhor absoluto rei do cangaço em todo o
nordeste e o então distrito de Poço Redondo em Sergipe na época se transforma
na CAPITAL DO CANGAÇO! Com mais de 30 cangaceiros no bando do rei do cangaço. A
partir de 1934, Poço Redondo foi sua joia mais preciosa no recrutamento de
cangaceiros entre tantos os mais conhecidos do sanfoneiro João Firmino.
-ZABELÊ e o sanfoneiro João Firmino eram primos.
-NOVO TEMPO, MARINHEIRO e MERGULHÃO ( Irmãos de SILA),
DEMODADO, COIDADO,DIFERENTE,DELICADO,SABIÁ,CAIXA DE FOSFÓRO,CANARIO,CAJAZEIRA
que foi o fazendeiro Zé Julião Nascimento, que mais tarde veio a adentrar na
política de Poço Redondo e por alguns motivos alheio veio ser assassinado em 19
de Fevereiro de 1961. Zé de Julião foi candidato a Prefeito pela primeira vez
em 1954. O resultado da eleição 134 a 134 votos deu empatado, com o outro
concorrente Artur Moreira de Sá que assumiu por ser mais velho, perdendo a
eleição, portanto, Zé de Julião, o antigo cangaceiro CAJAZEIRA. Quatro anos
depois (1958) Zé de Julião é candidato novamente ao cargo de Prefeito de Poço
Redondo tem como concorrente o Tenente da Polícia Sergipana (Eliezer Joaquim de
Santana). Zé de Julião tem chances totais de vitória, mas uma injustiça lhe
acontece. A UDN e o seu poderoso chefe (Leandro Maciel), não permite que o
antigo cangaceiro concorra à eleição, não permitindo que os seus eleitores
recebam os títulos para votar. Impedido da disputa, Zé de Julião no dia da
eleição, invade Poço Redondo e a localidade Bonsucesso, roubando as urnas da
cidade e do povoado. Zé de Julião é cassado pelas autoridades. Foge e se
esconde na Serra Negra, atual Pedro Alexandre na Bahia, amparado pela força e o
poder do Tenente João Maria. Naquela ocasião já estavam escondidos em Serra
Negra os homens mais valentes do PSD sergipano: PITITÓ, ZECA DA BARRA, TONHO
PEQUENO, os CEÁRA e JOSAFÁ. Todos escorraçados do estado de Sergipe pela
polícia e os jagunços da UDN do senhor Leandro Maciel. O eixo da ação daqueles
perigosos proscritos da política Sergipana passa a ser Serra Negra na Bahia e
Pão de Açúcar em Alagoas. Em Pão de Açúcar, sobressaia-se a figura do último
coronel do sertão – Elísio Maia (1914-2001), mantendo às suas expensas um
numeroso bando de jagunços e pistoleiros arrebanhados em Alagoas, Sergipe,
Bahia e Pernambuco. Elísio Maia manteve-se por mais de 40 anos na política de
Alagoas com uma vasta área de comando a ferro e a fogo em diversos munícipios
do sertão alagoano.
Agosto de 1928
quando Lampião foi escorraçado de Pernambuco, cruzou o Rio São Francisco e
entrou no sertão Baiano, levando consigo apenas cinco cangaceiros, o cunhado
Virgínio (MODERNO), o irmão caçula Ezequiel (PONTO FINO) Luiz Pedro, MERGULHÃO
e MARIANO. O sanfoneiro João Firmino, ainda tocou pessoalmente para os
cangaceiros – CORISCO, MERGULHÃO, MOURÃO, DELICADO, XEXÉU, CHÃ PRETA e LABAREDA.
Cangaceiros Baianos conhecidos do sanfoneiro João Firmino:
-CRUZEIRO, AMOROSO, MARIANO, MEIA NOITE, DEVOÇÃO, JURITI, ANGÊLO
ROQUE DA COSTA – O LABAREDA, PASSÁRINHO, SABONETE, ZÉ SERENO e o carrasco de
Chorrochó – O famoso Zé Baião, o ferrador – O cangaceiro da Palmatória, MANÉ
MORENO, ZEPELIM, MORMAÇO E MOURÃO.
No interior de
Pão de Açúcar grande façanha se deu quando um civil conhecido por Antônio de
Amélia, ele sozinho enfrentou e matou (04 cangaceiros) sendo: - ZÉ FORTALEZA
(chefe de bando), MEDALHA, SUSPEITA e LIMOEIRO. O fato ocorreu em 19 de
Setembro de 1935, na fazenda Aroeiras. O fim do cangaço foi traçado em Alagoas,
com vital participação das cidades de Piranhas e Pão de Açúcar. Ainda no
interior de Pão de Açúcar no final do cangaço mais uma barbaridade acontecia –
O filho de Luís Vicente foi castrado em questão de minutos. Fuxico foi o motivo
principal da confusão.
O soldado Adrião
foi morto pelo cangaceiro BALÃO. Adrião era filho de Pão de Açúcar. As volantes
de Pão de Açúcar estavam sob os comandos dos tenentes JUCÁ e PORFIRÍO e dos
Sargentos Francisco Ferreira e Zé Calu. O cerco final do cangaço foi cada vez
mais ficando restrito entre os munícipios de Piranhas e Pão de Açúcar em
Alagoas e o então distrito de Poço Redondo em Sergipe. Nesse triângulo de
território lascado pelo Rio São Francisco – Lampião- rei do cangaço ganhou
confiança e se sentia cada vez mais um rei, ladeado de súditos dominados pelo
medo da morte a ferro e a fogo.
Cangaceiros
Pernambucanos conhecidos do sanfoneiro João Firmino, entre eles.
- JUREMA, DESBOTADO, DESCONHECIDO, COBRA PRETA (criado de Lampião),
PONTO FINO,(Irmão de Lampião – dito Ezequiel), MODERNO (Cunhado de Lampião),
ESTRELA DALVA, SABINO,ASA BRANCA, QUINTA FEIRA,BEM-TE-VI,ZÉ FORTALEZA...etc.
MULHERES CANGACEIRAS
Além da
baiana Maria Gomes de Oliveira – Maria Déia-MARIA BONITA (1911-1938) O
sanfoneiro João Firmino conheceu:
ALAGOANAS DO CANGAÇO
-INACINHA, companheira do cangaceiro GATO. Houve dois
cangaceiros com o apelido de GATO, um deles era baiano e o outro era alagoano
Inacinha dizia-se alagoana
-MARIA PANCADA, Companheira do cangaceiro PANCADA, diziam-se
alagoanos de um lugar denominado Capivara interior de Batalha-AL, noutras
versões eram baianos.
-NENEN, companheira do cangaceiro Luís Pedro, NENEN dizia-se
alagoana de lugar ignorado. Na opinião do sanfoneiro João Firmino e também de
muita gente, NENEN era a mulher mais bonita do bando, por ser tão rosada,
ruborescia sangue no rosto, outros a chamavam com todo o respeito de “Rosa do
Jardim do Paraíso”.
-DULCE foi a segunda companheira do cangaceiro CRIANÇA, ambos
eram alagoanos.
SERGIPANAS DO CANGAÇO
(Maioria – Poço Redondo)
- ENEDINA, Sergipana de Poço Redondo foi companheira do
cangaceiro CAJAZEIRA, ambos eram Sergipanos de Poço Redondo.
-SILA, Sergipana de Poço Redondo, foi a segunda companheira
do cangaceiro baiano ZÉ SERENO. A primeira companheira do cangaceiro ZÉ SERENO
chamava-se ILDA, era baiana e morreu de parto.
-ROSINHA, Sergipana de Poço Redondo, foi companheira do
Cangaceiro baiano MARIANO (Chefe de Bando). Rosinha ficou viúva e despertou o
interesse de abandonar o cangaço, foi morta a mando de Lampião.
-ADÍLIA, foi companheira do cangaceiro CANÁRIO, ambos eram
Sergipanos de Poço Redondo.
-ADELAIDE, Sergipana de Poço Redondo, companheira do
cangaceiro – CRIANÇA que era alagoano, Adelaide morreu de parto.
-ÁUREA, Sergipana de Poço Redondo, foi companheira do
cangaceiro baiano MANÉ MORENO.
-MARIA, Sergipana de Canindé do São Francisco, foi
companheira do cangaceiro baiano JURITI (chefe de bando).
CANGACEIRAS BAIANAS
-LIDIA, foi companheira do cangaceiro ZÉ BAIANO, mais tarde
LIDIA veio a ser assassinado pelo próprio companheiro, vingando-se de uma
traição.
-DADÁ, era baiana de Santa Brígida, foi companheira do
cangaceiro alagoano - CORISCO – Chefe de bando.
OUTRA
DUAS MULHERES CANGACEIRAS
-ZEFÁ, foi companheira
do cangaceiro CANJICA.
-SEBASTIANA, foi a segunda mulher do cangaceiro sergipano
Moita Braba, sua primeira companheira chamava-se LILY e foi morta apunhaladas
por Lampião. LILY traiu o companheiro MOITA BRABA com o cangaceiro POCORAN – O
protegido de Lampião.
No estado de
Sergipe segundo informações do “tocador de Lampião” – João Firmino, foram
considerados como os maiores coiteiros de Lampião – Os irmãos – os dois
fazendeiros coronéis de barranco Antônio Britto em seu latifúndio, fazenda
Belém no município de Porto da Folha. E o seu irmão Hercílio Britto em sua
imensa fazenda Cuiabá em Canindé do São Francisco, garantia apoio na região do
alto sertão Sanfranciscano sergipano. O apoio ao cangaço dos irmãos Britto
resplandecia com jurisdição sobre grande parte do sertão de Sergipe e todo
baixo São Francisco até Própria, SE. Na fazenda Belém de Antônio Britto chegou
a se reunir por vários dias entre 75 e 80 cangaceiros a comer, beber e dançar
dias e noites. Abatia-se gado e outros animais, tudo as expensas do Coronel
Antônio Britto e nada era diferente na fazenda Cuiabá do coronel Hercílio
Britto, ambos os filhos do lendário Coronel de barranco cutelo e baraço,
Francisco Porfirio Britto.
O sanfoneiro João
Firmino durante muito tempo manteve em Pão de Açúcar um bloco de carnaval
denominado os CANGACEIROS.
(Lampião para mim era bom demais)
João Firmino (1911-2001)
Outros sanfoneiros
bastante requisitados por Lampião entre os sertões de Alagoas e Sergipe eram:
Manoel Guilhermino, interior de Pão de Açúcar. Agenor da Barra, era Pão de
açúcarense, mas na época do cangaço residia em Barra do Ipanema – Belo
Monte-Alagoas. Elis bão era Sergipano ao lado de João Firmino tocaram por mais
de 10 anos na fazenda Belém onde não faltavam cangaceiros todos os dias. Após
17 dias passados da morte de Lampião – 14 de Agosto de 1938, o sanfoneiro João
Firmino ainda tocou na fazenda Belém para os cangaceiros:
-VILA NOVA, PAVÃO, CRIANÇA, POCORAN, NOVO TEMPO e
DESCONHECIDO!
Em Pão de Açúcar
para o conserto de algumas armas e o fabrico de outras como punhais, Lampião
sempre requisitava os serviços do famoso ferreiro Mestre Pedro.
O fazendeiro e
Coiteiro dono da fazenda Belém Antônio Britto ficou muito triste, comovido
quando ouviu pelo rádio a noticia da morte de Lampião de quem era grande amigo
praticamente teve um desmaio.
INFORMANTE:
- O PRÓPRIO
JOÃO FIRMINO – DEZEMBRO DE 1997
- RAMINHO
(Neto de João Firmino) – FEVEREIRO DE 2016